O Surdo e a História
Toda criança tem dificuldade em entender a necessidade de aprender história na escola. Algumas sempre questionam: por que tenho que aprender sobre a vida dessas pessoas? Mas na realidade elas ainda não conseguem ver que são reflexo do conteúdo sendo exposto. Com o passar do tempo, é possível entender o porquê de estudar. Pode não gostar ainda, mas já compreende a necessidade.
Com o estudante surdo é um pouco diferente, especialmente quando ele não tem contato com outros surdos. Com a linguagem restrita e sem trocar informações na sua própria cultura, fica-se restrito ao que está sendo passado e a forma como está sendo passado.
Em uma discussão na reunião semanal do Grupo de Estudo Bilíngue de Ciências Humanas, um dos participantes apontava a necessidade de ensinar história de uma maneira gradual, pois a criança entende o que é a história, considerando que existe uma micro história familiar, gerando um contexto associado à sua família extensa e à sociedade, até chegar aos conteúdos de história do Brasil ou a história dos povos.
Esse empenho educacional não está exatamente nos livros de história, mas na compreensão de um indivíduo dando os primeiros passos para o aprendizado e ainda tendo a possibilidade de começar este estudo contando a sua história, podendo assim entender até conceitos mais complexos, como a história da surdez no mundo.
Nesse contexto, não há necessidade de apresentar história à criança e sim, deixá-la apresentar o que tem e depois fazer ligações com os conteúdos históricos. Não podemos esquecer que a criança surda tem que conhecer a cultura através da sua história antes de qualquer coisa.
Motivar o surdo a compreender a sua cultura é dar a chance de encontrar a si mesmo, de uma maneira própria e o transformar em autônomo, para aprender e buscar o que precisa, até mesmo uma cultura que não é a dele, como a cultura dos demais de sua família e/ou comunidade.
A pessoa surda começa a entender que existe outra cultura e que é diferente da dela e com essa sabedoria ela pode conquistá-la, deixando mais fácil aprender outros “mundos”. O exemplo disso é aprender a língua portuguesa. O surdo só vai aprender bem a língua portuguesa quando perceber que não é sua língua materna e se identificar com sua própria cultura, assim ele pode adquirir outra língua conscientemente e por opção. Não exatamente porque alguém o obriga a apreender.
“Conhecer a si mesmo” e “saber seus limites” é criar a autonomia de entender o que aprender e esquecer que é necessário decorar ou ser obrigado a algo que nem compreende, mas questionar tudo de forma clara e adquirir o conhecimento gerado em seu ser. O surdo tem o direito de realmente apreender e gerar conhecimento e não simplesmente reproduzir conceitos.
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